sábado, 23 de agosto de 2008

nanodemocracia.


Quase não se encontra um pesquisador que não seja favorável à democratização da ciência. Salvo aqueles casos patológicos de quem não acha necessário ter algo a dizer para a “dona Maria”, todo mundo defende a necessidade de popularizar o conhecimento produzido pelos cientistas. Por pragmatismo ou por princípio -tanto faz.
De um ponto de vista mais ambicioso e radical, porém, trata-se de uma democratização pela metade. Descer de vez em quando da torre de marfim, ou sair do laboratório de alta biossegurança, e deitar umas tantas pérolas aos poucos que se interessam.
Mesmo entre cientistas petistas (com perdão pela rima pobre), é raro ver alguma proposta participativa. Dar voz ao público na escolha de prioridades de pesquisa? Nem pensar. (…)
No Reino Unido, o Conselho de Pesquisa em Engenharia e Ciências Físicas (EPSRC, na sigla em inglês) se mostrou sensível à questão e ampliou uma consulta para ouvir o que o público tinha a dizer. Foi uma surpresa.
Em jogo estava uma linha de pesquisa de 15 milhões de libras esterlinas (R$ 45 milhões) para fomentar estudos prospectivos de aplicações nanotecnológicas na medicina. Segundo a revista “Times Higher Education”, o resultado levou o EPSRC a deixar de lado algumas das idéias iniciais.
A vítima principal da consulta foi o conceito “teranóstico” (mescla de terapia com diagnóstico). O plano era financiar pesquisas que pudessem levar a dispositivos capazes de circular pelo corpo do doente monitorando substâncias indesejáveis e, ao mesmo tempo, dosando a liberação de remédios.
No processo de consulta pública, ficou patente que as pessoas comuns não se sentiram confortáveis em ceder todo o controle a uma máquina -por menor que seja ela. Por ora, o projeto fica na gaveta.
No nano e no macro, vale o dito alemão: confiança é bom, mas controle é melhor.
* publicado originalmente em
Ciência em Dia: Biologia e Política (Marcelo Leite)

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

a educação pela pedra.


Uma educação pela pedra: por lições;
Para aprender da pedra, freqüentá-la;
Captar sua voz inenfática, impessoal(pela dicção ela começa as aulas).
A lição de moral, sua resistência fria ao que flui e a fluir, a ser maleada;
a de poética, sua carnadura concreta;
a de economia, seu adensar-se compacta;
lições da pedra (de fora para dentro, cartilha muda), para quem soletra-la.

Outra educação pela pedra: no Sertão (de dentro para fora, e pré-didática).
No Sertão a pedra não sabe lecionar,
E, se lecionasse, não ensinaria nada;
Lá não se aprende a pedra: lá a pedra,
Uma pedra de nascença, entranha a alma.

João Cabral de Melo Neto – Educação pela pedra.